Abertura - Sensorium00007

No último sábado (20), após a abertura da mostra Sensorium: do mar para o rio. Arte, Ciência e Tecnologia, aconteceu no Cinema do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) um debate, em formato de conversa pública, entre os curadores da exposição, Karla Brunet e Danillo Barata, os artistas-programadores que fizeram parte da metodologia do projeto, Toni Oliveira, Paulo Alcântara e Carlos Lentini e o público sobre o processo de desenvolvimento da exposição.

Sensorium reúne as obras resultantes do projeto de arte digital de mesmo nome, que interagiu com o meio ambiente, pessoas e comunidades nas cidades de Salvador e Cachoeira a partir da criação de um dispositivo artístico-sensorial. A mostra é um relato de viagem, das intervenções feitas, do trajeto percorrido do mar para o rio Paraguaçu, entre a capital e a cidade do Recôncavo da Bahia, em busca de comunicar as sensações vividas durante o trabalho. A exposição é composta por obras dos 29 componentes que fizeram parte do projeto: o dispositivo móvel em si, o making off do dispositivo, a documentação das ações na comunidade e a visualização dos dados, através de simulação em 3D da viagem de barco, fotos, videoinstalação, mapas, cartazes e infográficos.

Segundo Karla Brunet, idealizadora do projeto e coordenadora do Grupo Ecoarte – IHAC/UFBA, “queremos lograr a compreensão dos conteúdos e reflexão sobre o cuidado com o meio ambiente, a sensibilidade dos visitantes, fazê-los sentir-se parte, construir uma ponte entre a cidade, o mar, o rio e cada uma das pessoas que visitarem a exposição. Vamos exibir os espaços emotivos, saudades e amor pelos lugares”, afirma a curadora.

007_palestra-arte

Karla Brunet curadora da Exposição Sensorium.

“A mensagem para o visitante é que todos nós moramos em uma terra viva, que tem fluxo, um sistema orgânico de desenvolvimento da vida. Tecnologia, arte e meio ambiente podem ter com certeza relação”, completa a pesquisadora, que se diz uma apaixonada pelo mar e que tem ele como objeto de estudo e a cartografia como inquietação artística. Ao ser questionada sobre o fato da exposição estar no MAM-BA e se há uma influência da arte contemporânea, ela revela que “a escolha do museu para exposição é muito mais pela proximidade do mar, pelo cheiro do mar. As pessoas podem sentir o cheiro do mar da Baía de Todos os Santos e depois entrar na exposição e senti-la.”

O projeto Sensorium: do mar para o rio foi contemplado pelo edital Culturas Digitais 2012, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, através de sua Assessoria Especial em Culturas Digitais e Juventude, e reuniu uma equipe diversificada e multidisciplinar, composta por profissionais, professores, estudantes e artistas que subverteram práticas de engenharia, física e química e, de modo artesanal/artístico, experimentaram maneiras de concretizar um aparelho para medir dados relativos à qualidade da água e do ar. Todo o projeto contou com a participação do professor e pós-doutor em Oceanografia Física e Meteorologia, Carlos Lentini, que contou “que os números traduziram os registros do processo em imagens e formas de visualização.”

Os envolvidos no projeto apresentam larga experiência no desenvolvimento de dispositivos DIY (Do It Yourself, o emblemático preceito empreendedor do “faça você mesmo”, nascido com o movimento punk da década de 1970) e priorizaram o uso de tecnologias (software e hardware) livres e a facilidade operacional. A concepção teve como fundamento a capacidade de amplo acesso do público, com a intenção de que pessoas não ligadas à pesquisa científica pudessem experimentar o dispositivo produzido e compreender os conteúdos por ele gerados, ao vivo e pela internet: todas as descobertas foram e continuam sendo compartilhadas no site do Grupo Ecoarte. Para o videoartista, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, Danillo Barata, “todo o projeto seguiu numa perspectiva rizomática, onde o conhecimento partiu de experiências contextuais e colaborativas de aprendizagem, constituído num processo de criação de conhecimento simultaneamente social e pessoal, com objetivos coletivos e de trabalho em equipe”, conta o professor.

078_palestra-arte

O professor e artista Danilo Barata também foi um dos palestrantes.

O aparelho, uma cesta de feira, não é apenas técnico, mas também feito com esmero estético, sem que pareça um artefato científico, e sim algo que preza pela apresentação visual, identidade e pertencimento, pela mobilidade e pela possibilidade de recriação por outros interessados. Quando finalizada a tarefa de criação do dispositivo, ele foi posto em prática em fevereiro deste ano.

De acordo com o músico e mestrando do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (UFBA), Toni Oliveira, “a cesta/dispositivo não foi apenas colocada para que alguém de longe pudesse consultar os números que ele indicaria: além de medir, sentir e interpretar o meio ambiente, com sensores apresentando dados captados e visualizados em tempo real, a inserção foi acompanhada por uma série de ações, oficinas, envolvimento de estudantes da UFBA e performances artísticas de interação com o espaço público e incluindo o trajeto entre elas”. Depois, foi realizada a fase de tradução dos resultados obtidos. Durante três meses, o trabalho de visualização e interpretação de dados foi norteado pela busca de formas artísticas e populares de disponibilizar os seus saldos ao grande público, contando com a colaboração do programador de visualização de dados, Santiago Ortiz.

Já o “olho” do dispositivo foi meta-construído pelo consultor de imagem e audiovisual, Paulo Alcântara. “Nós pensamos juntos como o dispositivo enxergaria. Instalamos uma câmera com lente de ‘olho de peixe’ que pode proporcionar um ângulo de até 172°, resultando em uma imagem com grande distorção óptica, no meio dos sensores apontada para o céu para conseguir captar as imagens das pessoas interagindo com o dispositivo. Uma câmera endoscópica também foi conectada a um notebook colocada na parte inferior do dispositivo (cesta de feira). Enfim, queríamos o melhor registro, a imagem de toda ação,” conta o cineasta.

Sensorium: do mar para o rio. Arte, Ciência e Tecnologia fica em cartaz no MAM-BA até o dia 28 de julho.

Sensorium: do mar para o rio. Arte, Ciência e Tecnologia
Curadoria: Karla Brunet e Danillo Barata
Onde: Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA)
Visitação: 20 de julho a 28 de julho
Terça a sexta, 13 às 19 horas; sábado e domingo, 14 às 19 horas
Entrada gratuita

Confira mais fotos na página do MAM-BA no Facebook