Salvador é a primeira cidade brasileira a receber a exposição coletiva Transit, que entra em cartaz no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) no dia 26 de março, às 19h. Com curadoria do baiano Daniel Rangel e do angolano Fernando Alvim, a mostra fará um tour pelo Brasil durante os próximos dois anos, trazendo recortes da maior coleção particular de arte contemporânea africana do mundo – pertencente à Fundação Sindika Dokolo, de Angola.

Pinturas, desenhos, gravuras, vídeos, fotografias, esculturas, vestimentas e instalações somam mais de 100 obras que vão circular pelo País até 2014. Na mostra Transit_Salvador, 25 obras de 13 dos mais importantes artistas africanos – Abdoulaye Konaté, Bili Bidjocka, Ihosvanny, Ingrid Mwangi, Minnette Vari, Mounir Fatmi, Ruth Sacks, Samuel Fosso, Seydou Keita, Tracey Rose, Yinka Shonibare, William Kentridge e Zoulikha Bouabdellah – ficarão expostas no Casarão e na Capela do MAM. Além deles, integram a exposição os trabalhos do artista visual norte-americano Nick Cave e dos europeus Robert Hutter – em parceria com Ingrid Mwangi – e Loulou Cherinet, que mantêm estreita relação com a diáspora africana.

No mesmo dia da abertura, às 17h, Daniel Rangel e Fernando Alvim estarão no Encontro com os Curadores, evento aberto ao público que acontece no Cinema do MAM, para uma conversa sobre a concepção da mostra e as obras que serão expostas. De acordo com Daniel Rangel, a proposta de Transit é explorar a estética dos artistas e mostrar a heterogeneidade presente na produção africana atual. “Nós não negamos as origens da arte africana, mas queremos possibilitar novas abordagens e inserir outras referências no imaginário das pessoas”, ressalta Rangel. As obras escolhidas já participaram de importantes exposições, entre elas África Remix, uma das primeiras no mundo a abordar novos olhares em relação à arte contemporânea africana.

Individualmente ou em grupo, os artistas que integram esta mostra já participaram de alguns dos mais importantes eventos das artes visuais no mundo. William Kentridge alia política e poesia em obras realizadas em múltiplas linguagens, obtendo amplo reconhecimento da crítica e do público. Com a utilização de técnicas gráficas, suas obras audiovisuais revelam a fragilidade e a solidão do homem contemporâneo na sociedade. Yinka Shonibare mescla referências para abordar temas sobre raça, identidade, história e alienação, por meio de uma estética rica em simbolismos. O artista impressiona ao questionar a noção de identidade e cultura através de suas instalações, compostas por manequins e roupas feitas com tecidos africanos que retratam cenas históricas inusitadas.

Já o escultor, dançarino e artista performático Nick Cave utilizou suas técnicas de costura para criar uma série de obras que se adaptam e vestem o corpo humano. A forma singular como cada obra é concebida confere àquele que o veste uma nova identidade, tal como acontece no teatro. Trata-se de uma nova descoberta das limitações performáticas, da linguagem do corpo e da relação que as pessoas mantêm com o espaço. O fotógrafo autodidata Seydou Keita se especializou em portraits, produzindo fotografias da sociedade de Mali, na transição de colônia francesa para país independente. O artista deu ênfase ao retrato, à luz e ao enquadramento, equilibrando formalidade com um notável nível de intimidade. É reconhecido como o pai da fotografia africana e um dos maiores fotógrafos do século XX.

PORTA DE ENTRADA – Daniel Rangel explica que a escolha de Salvador como primeira cidade a receber a exposição foi feita a partir da relação que esta mantém com a história e cultura africanas. “A primeira questão é a afetividade do povo baiano e a curiosidade das pessoas sobre a África. O caminho natural das obras é chegar primeiro à Bahia, assim como sempre aconteceu historicamente com intercâmbio do Brasil com a África”, conforme enfatiza.

Além disso, o curador destaca o Solar do Unhão – onde está localizado o MAM-BA – como um local de importância histórica, adequado para receber a exposição. Alguns trabalhos, inclusive, foram inseridos na mostra em função do desenho do espaço em que ficarão expostas, dialogando com a arquitetura do museu. Exemplo disto são os trabalhos de William Kentridge, que serão abrigados na Capela do MAM. Já o Casarão receberá obras que serão agrupadas a partir dos temas ou materiais utilizados. Moda, pessoas e cidades são algumas das temáticas abordadas pelas obras expostas no local.

SINDIKA DOKOLO

Detentor de mais de 4 mil obras de arte, o empresário e colecionador Sindika Dokolo constituiu a fundação que leva seu nome com o objetivo de criar um centro de arte em Luanda (Angola) e fomentar este mercado, incentivando a formação de novos apreciadores. A fundação é a primeira do continente com porte internacional para dialogar com outras instituições sobre a produção africana.

Desde 2003, a Fundação Sindika Dokolo realiza uma política de incentivo ao desenvolvimento da arte contemporânea africana. Participou da concepção do Primeiro Pavilhão Africano na 52ª Bienal de Veneza, em 2007, além de ter produzido a 1ª e a 2ª Trienais de Luanda, que influenciaram toda uma geração de artistas angolanos. Além das artes visuais, a Trienal de Luanda trabalha com música, cinema, dança e teatro, unindo questões ligadas à arte, ao social e à política.

CURADORES

Fernando Alvim – Nascido em Angola em 1963, é um dos principais dinamizadores da cena artística do país, tanto nacional como internacionalmente. Trabalhando simultaneamente como artista e curador, Alvim levou para Bruxelas, em 1999, o Camouflage, um espaço expositivo cuja principal intenção é dar visibilidade à produção artística africana na Europa.

Nos últimos anos, Alvim idealizou e continua a dirigir a Trienal de Arte de Luanda, uma das principais plataformas para a arte contemporânea angolana. Durante este ano, Alvim comissariou, juntamente com Simon Njami, o projeto Check List – Luanda Pop durante a Bienal de Veneza. Check List, realizado a partir da coleção da Fundação Sindika Dokolo – da qual Alvim é vice-presidente –, reúne o trabalho de cerca de 30 artistas africanos e pretende dar uma visão do panorama mais significativo da criação africana dos dias de hoje.

Daniel Rangel –
Artista, videasta, curador, produtor e gestor cultural graduado em comunicação social. Foi Diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), unidade da Secretaria de Cultura do Governo do Estado (SECULT), após atuar por dois anos como assessor de direção do Museu de Arte Moderna da Bahia. É curador dos programas Ocupas (Palácio da Aclamação) e Quarta Dimensão (Palacete das Artes Rodin Bahia), ambos de 2010, e das exposições Futebol Arte – A Copa por Outros Ângulos (2010); Fragmentos Populares: O Olhar de Lina Bardi (2009); O Presente do Passado (2008), de Naum Bandeira, Sete Áfricas (2008), entre outras. Produziu a exposição Quiet in the Land, parceria do MoMA, MAM-BA e Projeto Axé (2000), em Salvador.

De 1999 a 2002, foi assistente do artista plástico Tunga. Fez residências em Sydney e Barcelona, onde cursou direção cênica no Institut del Teatre de Barcelona, e foi diretor de criação da agência de comunicação Global Media & Sponsoring. Seu curta Bon Appetit (2000) esteve em festivais no Brasil, França, Espanha, Portugal e Japão. Atuou ainda no Fórum Comunitário de Combate à Violência, formando jovens produtores culturais em comunidades populares de Salvador.


Serviço

Exposição: Transit Salvador
Abertura: 26 de março de 2012, às 19h
Local: Casarão e Capela do MAM
Visitação: 27/03/2012 a 29/04/2012
Horários: Terça a domingo, das 13h às 19h, e sábados, das 13h às 21h.

Entrada gratuita