Obras de um dos mestres do construtivismo no Brasil serão exibidas no Museu de Arte Moderna da Bahia

O Museu de Arte Moderna da Bahia apresenta, a partir de 16 de dezembro, a exposição Rubem Valentim, reunindo obras de diferentes fases do artista baiano, incluindo trabalhos do início de sua carreira, nos anos de 1950 até a década de 1980. Obras do acervo do MAM-BA e de coleções particulares compõem um conjunto que destaca a estruturação da linguagem sígnica que caracterizou a obra do artista, falecido em 1991.

O caráter místico, o diálogo com a cultura popular e religiosa e a dimensão antropológica de sua obra serão evidenciadas nesta exposição, que é potencializada por intenso programa de ações educativas proposto pelo museu. A homenagem a Rubem Valentim reafirma a importância que sua obra exerceu no cenário artístico brasileiro,tangenciando a tradição ocidental com as raízes africanas da cultura brasileira. Telas, serigrafias, esculturas e relevos ocuparão o Casarão e a Capela do MAM-BA, evidenciando a relação das obras com o espaço.

Rubem Valentim – Uma arte autenticamente brasileira com uma linguagem internacional

Minha linguagem plástico-visual-signográfica está ligada aos valores míticos profundos de uma cultura afro-brasileira (mestiça-animista-fetichista). Com o peso da Bahia sobre mim – a cultura vivenciada, com o sangue negro nas veias – o atavismo; com os olhos abertos para o que se faz no mundo – a contemporaneidade; criando seus signos-símbolos procuro transformar em linguagem visual o mundo encantado, mágico, provavelmente místico que flui continuamente dentro de mim”, afirmava Rubem Valentim em manifesto escrito em 1976, onde o artista expressava seus pensamentos a respeito de sua obra.

O sentido místico e religioso vivenciado pelo artista – que foi Obá do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá – estava estreitamente vinculado à clareza da estruturação construtivista; esta mesma dualidadeestava presente no pensamento e obra de artistas como Mondrian, Malevitch e Torres García. Para Emanoel Araújo, artista visual e diretor do Museu Afro Brasil, sua obra significa uma grande metáfora. “Nisso reside sua maior relevância – a de atender e perpetuar a simbiose cultural entre a Bahia e a África”.

A inserção do conjunto de esculturas Templo de Oxaláno espaço do Casarão vai potencializar o caráter monumental de sua obra, promovendoum diálogo com um outro elemento – arquitetônico e escultórico – presente neste espaço: a escada, construída durante a reforma realizada por Lina Bo Bardi na década de 60. Esta integração entre arte, ecologia, arquitetura e urbanismo foi sempre desejada por Rubem Valentim”, diz Stella Carrozzo, diretora do MAM-BA, que assina a curadoria da mostra, com assistência do artista visual, arquiteto e poeta baiano Almandrade .

Nascido em Salvador, Rubem Valentim dedicou-se à pintura em meados da década de 1940 quando, ao lado de outros artistas, envolveu-se com o movimento de renovação artística da Bahia, juntamente com Mario Cravo Jr., Jenner Augusto, Lygia Sampaio e outros. Num contexto artístico onde o abstracionismo não era bem aceito, Rubem Valentim construiu sua trajetória praticando uma pintura não figurativa de base geométrica. Foi premiado pela primeira vez no Salão Baiano de Belas Artes, em 1955. Em 1957, participando ativamente do cenário artístico nacional, recebeu o Prêmio de Viagem à Europa no XI Salão Nacional de Arte Moderna e Pequena Medalha de Ouro no Salão Paulista de Arte Moderna em 1962. Viajou para Europa passando pela Inglaterra, França, Holanda, Bélgica, Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal e Itália. Residiu em Roma de 1964 a 1966, quando decidiu retornar ao Brasil. Participou da Bienal de Veneza em 1962e diversas vezes da Bienal de São Paulo, entre 1955 a 1998, da qual recebeu o Prêmio Aquisição em 1967 e 1973 e Sala Especial em 1998, após o seu falecimento em 1991.